Correndo trilhas fora do Brasil: Santiago, Chile (parte 1)
Aviso importante

As informações compartilhadas nesta série têm como objetivo auxiliar e inspirar corredores a explorarem trilhas internacionais com mais confiança e planejamento. No entanto, cada aventura tem seus próprios desafios e riscos, e a responsabilidade por garantir a segurança e o sucesso da atividade é exclusivamente do leitor.

Recomendo que, antes de qualquer trilha, você faça seu próprio planejamento detalhado, avalie suas condições físicas e psicológicas, verifique a previsão do tempo, equipe-se adequadamente e, se necessário, consulte guias locais ou profissionais especializados.

Ao seguir qualquer dica ou roteiro apresentado aqui, você está assumindo total responsabilidade por eventuais acidentes, imprevistos ou intercorrências que possam ocorrer no processo. Meu objetivo é apenas compartilhar experiências e facilitar sua jornada, mas a execução e as decisões em campo dependem inteiramente de você.

Correr em trilhas, especialmente em locais desconhecidos, exige cuidado e preparo. Priorize sempre sua segurança!

Pouco antes da largada, banheiro do parque, limpíssimo!

Correndo pelas montanhas do Chile: Cerro La Cruz

Essa foi minha primeira aventura correndo solo fora do Brasil. Após uma viagem a Santiago, onde fiz passeios com uma agência para Portillo e Cajón del Maipo, consegui encaixar algumas corridinhas nessas regiões dos Andes. A experiência me despertou um desejo: na próxima vez, eu faria uma montanha por conta própria, como fazem os praticantes locais. Algo equivalente ao que temos na nossa região de Curitiba, com o Anhangava, Pico Paraná, Araçatuba e outras montanhas.

Planejamento Inicial

No meu planejamento inicial, que começou meses antes da viagem, a ideia era encarar o Cerro Provincia, uma montanha de 2750 metros de altitude com um percurso que considerei bem interessante. Contudo, devido à falta de transporte público no início da manhã e ao alto custo para ir de Uber, precisei mudar meus planos. Acabei escolhendo o Cerro San Ramón, com 3253 metros de altitude, um dos cumes mais acessíveis para trilhas de montanha próximas a Santiago.

Para tal, eu sairia do Parque Mahuida (https://g.co/kgs/nc2FAPw) no bairro La Reina. Estávamos ficando no bairro Providencia, próximo ao Mall Costanera. Li em algum lugar que o app Didi normalmente tem um preço melhor que o Uber, e de fato tinha. Simulei pelos dois apps, e o Didi ficou 20% mais em conta; paguei o equivalente a 60 reais no trecho. O ingresso ao parque custou 500 pesos. (site do parque: https://www.parquemahuida.cl/informacion/)

Nessa experiência, cometi algumas falhas. A primeira é que peguei uma trilha no Wikiloc de um sujeito que entrou sem pagar a entrada do parque, então ele foi por umas quebradas estranhas, passando por umas áreas desertas, de armazanagem de equipamentos. Eu, que entrei pagando, tentando seguir a trilha, acabei saindo do parque kkk. Passei por uma picada de mato horrível e entrei na trilha principal um pouco acima do início original, perdendo bastante tempo e energia. Bastava ter seguido as placas do parque.

Início da Trilha

Finalmente, iniciei a trilha. Muito inclinada, com vegetação rasteira cheia de espinhos, muita poeira, características típicas da pré-cordilheira dos Andes, regiões semiáridas. O calor era intenso, e eu me desidratava rapidamente. Santiago é uma grande cidade, e por mais que tenha muitas medidas de preservação ambiental, existe muita poluição no ar. À medida que eu ia subindo, ficava nítido aquele cobertor cinza de poluição, que acaba ficando preso pelas montanhas ao seu redor, sem ter como sair, soma-se o fato que chove muito pouco por lá.

Parque Mahuida de La Reina
Morro La Reina 2100 m

Depois de subir um tanto, vi uma placa com a inscrição “Fim de VK”. Posteriormente, descobri que ali havia sido realizada uma prova do circuito Sky Running do Chile. Inclusive, nesse mesmo ano, tivemos atletas chilenos competindo no Brasil.

Subindo Pela Crista da Montanha

Mais adiante, indo pela crista da montanha, com uma vista magnífica da cidade, passei pelo Morro La Reina, Morro de La Bandera, e cheguei numa área com muitas pedras para escalar com uma placa escrito “Zona de la Muerte”. Confesso que ali me deu um frio na barriga: uma zona estreita, por onde se escala grandes pedras. Se cair, é um abraço, fio, mas não se se assustem, é uma área técnica, mas manejável para quem tem experiência.

Passei por outro paredão rochoso, por onde tive que parar e estudar por onde subiria. Se for para comparar com o Brasil, me vem à mente o trecho de pedras do Morro do Couto no PNI, porém numa escala um pouco maior.

Caminho pela crista da montanha

“Cumbre”

Depois, se iniciou uma subida íngreme rumo ao Cerro La Cruz (2552m), e esse foi o meu cume mais alto do dia. Adiante estava o Cerro San Ramón, acredito que distante uns 3 km de trilha com 700 m de ganho, só que a minha água já estava no fim. Levei apenas 1 litro, e na trilha não tinha nenhum ponto de coleta, muito árido.

Cume!

Tirei algumas fotos, e alguns minutos depois dois gaviões vieram me investigar. Descobri que estavam de olho na minha comida… e também no meu celular! Enquanto eu posava para uma foto com o timer, um deles veio num ímpeto para atacar o meu celular, tive que correr para espantar a ave.

Carcará Andino
Os dois vieram me investigar quando alcancei o cume
Correndo para salvar o meu celular, os Carcará partiram pro ataque.
Bem próximos, interessados em comida.

Sedenta Descida

Hora de começar a descida. Que para minha surpresa, foi mais tranquila que a subida, já que agora eu conhecia os caminhos pelas rochas.

Perto da temida Zona da Morte, um Condor dos Andes passou rasante bem na minha frente, a uns 5 metros de distância. Deu até para ouvir o som das asas gigantes cortando o vento. Que cena incrível!

Condor dos Andes

Já na descida do VK, bateu aquele leve desespero. Eu devia ter só uns 200 ml de água para chegar até a base, e o sol escaldante não dava trégua. Poupei cada gota que pude.

Na base, fui direto a uma lanchonete comprar água, mas não aceitavam efectivo (dinheiro). Tive que pagar no cartão de crédito.
Que alívio! Rolê finalizado com sucesso, voltei sã e salvo.

Um detalhe: quando paguei meu ingresso e me registrei dizendo que iria até o Cerro San Ramón, quase não me deixaram ir, por conta do tempo de ida e volta. Tive que explicar que faria o percurso correndo. Então, fica a dica: chegue cedo para evitar esse problema.

Na volta para a hospedagem, corri até uma zona mais baixa e pedi um Didi.

Essa foi uma trilha em que vi apenas duas pessoas durante todo o percurso (na parte mais baixa). Por isso, é importante se registrar certinho. O celular só funciona em alguns pontos. Para maior segurança, escrevi um bilhete em espanhol com meus dados e contatos de emergência: a Fran e o Rodrigo, um amigo que mora em Santiago.

Uma boa dica para as suas trilhas em Santiago: se sentir seguro para dirigir fora do paísalugue um carro. Isso vai agilizar os deslocamentos, te dá flexibilidade para fazer os seus próprios horários e, financeiramente, dependendo da sua programação pode ser mais barato do que fazer os passeios através de agências.

Meu percurso no Strava: https://www.strava.com/activities/13312893880

TRN Trail Rank: 7,87 (saiba o que é isso)

Se você curte as aventuras de trail running que compartilho por aqui, vai adorar acompanhar tudo em vídeo. Em breve, vou publicar as imagens dessas experiências no meu canal, com muito mais detalhes das trilhas, paisagens e, claro, a emoção de correr por esses lugares incríveis!

Fique de olho e não perca nenhum conteúdo! Acompanhe e se inscreva para não perder as atualizações. Canal: https://www.youtube.com/@trailadventuresbr

Desejo a todos uma boa viagem e boas trilhas! Não se esqueça de compartilhar suas experiências aqui nos comentários e me seguir no Instagram @trailrunningnet para mais dicas.

 

No cume do Cerro La Cruz
Vista de Santiago
Cerro El Plomo ao fundo
Templo de Bahá´í visto durante a subida
Com zoom
Placa durante a subida, muito bem sinalizada.
Gatinho inspecionando o meu equipamento (lanche)

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