Anhangava: O acesso à montanha deveria ser restrito? Onda de acidentes levanta questões

O Morro do Anhangava, localizado na Serra da Baitaca, em Quatro Barras, Paraná, é uma referência para montanhistas e escaladores. Com altitude aproximada de 1.433 metros, é considerado um dos melhores campos-escola de escalada em rocha do Brasil. Suas paredes, que chegam a 100 metros de altura, oferecem diversas vias de escalada, tornando-o um destino procurado tanto por iniciantes quanto por experientes.
A trilha até o cume apesar de não ser extensa é desafiadora, exigindo preparo físico adequado. O percurso tem aproximadamente 2,4 km, com desnível positivo de 414 metros e elevação máxima de 1.433 metros, é classificado como de dificuldade moderada. Além da escalada, o Anhangava é frequentado por praticantes de trekking e observadores da fauna e flora locais.
Um fato muito preocupante é a quantidade de acidentes e resgastes que tem sido realizados no Anhangava e montanhas adjacentes,em minha última visita ao Anhangava, juntamente com Marcelo Nadovich, presenciamos as seguintes situações. Uma jovem caiu sobre outra pessoa na área dos grampos que dão acesso à rampa do Anhangava, batendo a cabeça em uma pedra e ficando ensanguentada, a princípio não parecia ser nada grave, mas causou confusão no grupo que ela estava e também nos demais visitantes. Além disso, vimos duas mães seguindo em direção ao mesmo trecho com crianças de aproximadamente 4 anos, sem o preparo e equipamento necessário, colocando em risco a segurança delas e de seus filhos, tivemos cada um que atravessar uma criança em um trecho perigoso. Durante a nossa descida presenciamos membros do GOST que estavam subindo a montanha para realizar o atendimento a vítima. Tenho certeza que todos os corredores de montanha já presenciaram casos semelhantes por lá.
Sendo direto, todos tem o direito de estar na montanha, isso é inquestionável, não sou daqueles que crêem que a montanha é exclusiva para os montanhistas, esse é um pensamento egoísta, a montanha traz muitos benefícios para as pessoas, a questão é que as pessoas não sabem lidar com a montanha adequadamente, aí temos esse circo de horrores de acidentes, alguns até fatais.

Abaixo separei algumas notícias sobre os acidentes que ocorreram no Anhangava.
Resgates Recentes no Morro do Anhangava:
“Segundo resgate em menos de 24 horas no Anhangava, campo-escola da região de Curitiba”
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“Jovem é resgatado por helicóptero após queda de 10 metros no Morro do Anhangava”
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“Montanhista é resgatado de helicóptero após queda no Morro do Anhangava”
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“Homem é resgatado de helicóptero no Anhangava após queda”
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“Homem fica ferido ao cair durante escalada no morro Anhangava, na Grande Curitiba”
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“Homem fica ferido ao cair durante escalada no Paraná”
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“Vídeo! Montanhista ferida é resgatada de helicóptero pela PRF no Morro do Anhangava”
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“Dia movimentado no Morro do Anhangava, na Grande Curitiba, com resgate de rapel e jovens perdidos”
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Para diminuirmos a possibilidade de acidentes no Anhangava e qualquer outra montanha da região, separei algumas preciosas dicas. Então, se você está iniciando suas atividades em montanha, procure segui-las para evitar acidentes.
Preparação: A trilha não é indicada para iniciantes. É essencial ter bom condicionamento físico e experiência prévia em trilhas.
Equipamento: Utilize calçados adequados com boa aderência e roupas apropriadas para atividades de montanha.
Segurança: Evite levar equipamentos de som que possam perturbar a fauna local e outros visitantes. (Matéria: 🔗 Cachorro do Mato é encontrado agonizando na Serra do Mar paranaense)
Respeito Ambiental: Não deixe lixo na trilha. Tudo o que for levado deve ser recolhido. Preserve a natureza para que outros também possam desfrutá-la.
Fogo na montanha: Assitir um aventureiro fazendo fogo num programa do Discovery ou Nat Geo pode parecer legal, mas na vida real não é bem assim, é proibido por lei fogueiras, isso aumenta muito o risco de incêndios, prejudicando a fauna e a flora. Quer se aquecer na montanha, vá com roupa e equiapementos adequados.
Para que o rolê na montanha seja seguro e o acesso continue sendo universal, deixo algumas sugestões, não só para o Anhangava, mas para todas as nossas montanhas. Poderia, inclusive, se tornar uma política de Estado, incentivando o turismo consciente e hábitos de vida mais saudáveis para a população, se tornando uma referência nacional.
Maior presença das autoridades é essencial
É fundamental que o Instituto Água e Terra do Paraná (IAT-PR) implemente programas de educação ambiental e realize patrulhas regulares nas trilhas, por meio da Polícia Ambiental, para orientar os visitantes. Também é recomendada a revitalização da trilha que dá acesso ao cume pelo Morro do Sambaia, direcionando os visitantes por essa rota e evitando o trecho mais crítico dos grampos.
Sinalização informativa e educativa reforçada
Instalação de placas ao longo da trilha com:
Informações sobre o nível de dificuldade e os riscos do percurso.
Alertas sobre o uso obrigatório de calçados adequados e a proibição de entrada com crianças pequenas sem supervisão.
QR Codes com vídeos educativos curtos, acessíveis no celular.
Painéis de “Você está aqui” nos pontos-chave, com mapas e rotas alternativas.
Controle por permissões para grupos maiores ou excursões
Limitação ou agendamento prévio obrigatório para grupos escolares, religiosos ou turísticos.
Grupos com mais de X pessoas devem apresentar responsável técnico capacitado, com noções mínimas de primeiros socorros e conduta em montanha.
Pontos de apoio em locais da trilha
Instalação de estruturas simples em alguns pontos das trilhas. Com rádio, kit de emergência, água e um voluntário ou guarda ambiental nos horários de maior movimento (finais de semana e feriados). Isso agilizaria o chamado e coordenação de resgates e serviria como ponto de orientação (e educação) para iniciantes (e pessoas sem noção).
Alguns podem dizer que essa é uma solução cara, já que envolve voluntários, funcionários ou guardas ambientais, mas o custo de apenas um resgate de helicóptero pagaria facilmente meses desse investimento.
Trilhas familiares
Sinalizar trilhas alternativas mais seguras para famílias com crianças ou pessoas com menor mobilidade, com passagens menos expostas,como o circuito de cachoeiras ou o Samambaia.
Isso evita a superexposição das áreas técnicas (como os grampos), mantendo a experiência de contato com a natureza acessível e controlada.
Adaptação parcial do Caminho do Itupava para pessoas com deficiência
E o tema inclusão, não poderia fica de fora, uma ideia seria adaptar um trecho inicial do Caminho do Itupava para mobilidade assistida, permitindo que cadeirantes e pessoas com deficiência locomotora também tenham contato com a trilha e a natureza da Serra do Mar.
- Uso de cadeiras adaptadas de trilha, como a Joelette, uma cadeira de rodas adaptada com uma única roda central, guiada por duas ou mais pessoas (na frente e atrás), já usada em trilhas no Brasil (já vi no cânion Itaimbezinho) e no exterior. Essas cadeiras permitem que pessoas com mobilidade reduzida vivenciem trilhas acidentadas com apoio de acompanhantes capacitados.
- Inclusão de placas com braile e QR Codes com áudio descrição, favorecendo também pessoas com deficiência visual.
A segurança e a preservação do Morro do Anhangava, e de todas as nossas montanhas, dependem da conscientização e da responsabilidade de todos os frequentadores.
Não se trata de excluir ninguém, mas de garantir que todos possam viver a experiência da montanha com o mínimo de risco e o máximo de respeito a natureza e ao coleguinha.
Estar na montanha é um privilégio que carrega consigo uma dose de responsabilidade. Cabe a nós, que já frequentamos esses espaços, ser exemplo, orientar quem chega e cobrar políticas públicas que valorizem o acesso seguro e consciente à natureza.
Que o Anhangava seja um campo-base para o aprendizado de valores como empatia, cuidado e coletividade.
Nos vemos nas trilhas!
Filmagem realizada em 2019, resgaste de uma garota que torceu o tornozelo.

